INTRODUÇÃO
Em meio ao perpétuo estado de “aproximações sucessivas” rumo ao colapso da civilização, encontra-se o cidadão totalmente desnorteado, e até anestesiado, perante os crescentes absurdos dos quais somos testemunhas e até participantes ativos neste grande palco do “fim dos tempos”.
Em um espaço de tempo cada vez mais curto vemos tais absurdos se multiplicarem e assumirem posições de “normalidade” frente à percepção (ou conformidade) das pessoas. Uma longa marcha de destruição da civilização e do próprio conceito desta, tendo em vista que a sofisticação revolucionária se confunde em meio às soluções dos próprios problemas que ela mesma (a revolução) têm gerado ao longo dos tempos.
Na verdade, as sementes do caos há muito foram plantadas, mas para a maioria das pessoas apenas há pouco começaram a germinar. No entanto, essa (in)consciência moderna, já tão impregnada de dissonâncias cognitivas, impede que se enxergue toda uma cadeia de incoerências que já afronta até mesmo o âmago dos lares.
Homens e mulheres cada vez mais dissociados em suas aptidões e deveres, idealismos dos mais absurdos ganhando roupagem de normalidade para as gerações vindouras, hábitos que embotam o raciocínio e desconfiguram estruturas psíquicas elementares da formação de nossa própria consciência…
Enfim, cenário caótico e desesperançoso… Porém, talvez o melhor remédio para curar os males seja justamente expor os princípios e as origens do homem e da civilização, cujo estes são os maiores alvos dos grandes déspotas da atualidade. Sim, eles querem construir o “novo homem” e a “nova civilização”, mas para isso é preciso destruir as bases da civilização como a conhecemos.
Para evitar ser prolixo, tomarei por exemplo a dinâmica da estrutura mais elementar da sociedade, a família.
O emprego da palavra “dinâmica” sugere uma abordagem ampla, que aborda as origens, a estrutura, o seu papel na sociedade e tudo aquilo que engloba o próprio contexto de “civilização”, cujo a família é sua principal célula.
A importância de se esclarecer tal tema é URGENTE, para que possamos tentar restaurar ou reconstruir a civilização como a conhecemos.
PROGENITORES, FAMÍLIA, CONCEITOS E ORIGENS
Não me parece sensato especular que a família, como a conhecemos (basicamente composta por pai, mãe e filhos), seja contemporânea das origens da nossa própria espécie. É notório que existe uma sequência cronológica de eventos que ocorrem entre as origens da espécie humana (e seus primeiros agrupamentos) e as origens das primeiras famílias “patriarcais”, por assim dizer.
Entre diversas abordagens alegóricas, científicas e históricas é possível perceber uma distinção evidente entre o progenitor feminino e o masculino ao longo das eras. Em praticamente todas as espécies mais “próximas” da humana a existência e importância do progenitor feminino é evidente e inquestionável.
Entre os mamíferos é muito claro que há um “elo instintivo (e material)” fortíssimo entre o progenitor feminino e sua prole. No caso do progenitor masculino, geralmente o seu único papel é inseminar a fêmea para que esta sim se encarregue então de gestar, amamentar e cuidar da prole.
Até aqui, entre fatos e obviedades, pouco há o que acrescentar, mas… creio ser pertinente fazermos as seguintes indagações: poderia existir, de fato, um elo realmente forte entre o progenitor masculino e sua prole? Qual seria este elo e como ocorreu?
Na biologia é evidente que este elo (entre o progenitor masculino e sua prole) é praticamente inexistente na maioria das espécies. Até mesmo a espécie humana, pelo menos nos seus estágios mais primitivos, pouco se concebe a existência do “pai”, e geralmente apenas a “mãe”, a “avó materna” e (possivelmente) os tios (irmãos da mãe) é que normalmente se agrupam e se reconhecem mutualmente por laços familiares.
Porém, ao observarmos as sociedades modernas, é evidente que o elo entre o progenitor masculino e sua prole são muito mais fortes, pois sem dúvidas hoje em dia temos “consciência” e concebemos plenamente a ideia de “pai”, inclusive em nossas leis e costumes. Então, a primeira indagação parece estar respondida: é possível sim, e existe!
Certamente, agora entramos em uma parte um pouco mais polêmica desse artigo que diz respeito justamente à resposta mais plausível para as demais indagações. E é nesse ponto que as mais diversas alegorias mitológicas tentam explicar como geralmente se sucede essa “transformação” do homem primitivo para o homem civilizado. Sim, várias deduções sugerem uma estreita ligação da ascensão do homem civilizado com o concebimento da figura do “pai” nas famílias e na sociedade.
O caminho para se chegar às respostas para as demais indagações normalmente parte da premissa de que o elo do progenitor masculino com a prole só é realmente possível por via indireta, seja através da validação da progenitora feminina, e/ou da validação cultural do meio.
O primeiro estágio de validação da fêmea para com o macho é o próprio ato de acasalamento em si, que dá a possibilidade de nascituro, exceto em casos de estupro, aonde tal intercurso ocorre à revelia da fêmea. O outro estágio da validação da fêmea para com o macho se dá ao permitir que o (suposto) progenitor masculino exerça proteção, domínio e influência sobre ela e a prole.
Para que haja a validação cultural, ou seja, o reconhecimento da paternidade de uma prole pelos demais indivíduos da sociedade, é preciso primeiro que tal sociedade tenha o concebimento da existência da figura do “pai” como sendo um dos dois genitores em uma família.
Em uma sociedade primitiva a figura do “pai” até pode ser concebida, mas de forma muito limitada, pelo arquétipo primitivo (estrutura psíquica) do “macho alfa” (dominante), semelhante ao que ocorre com várias outras espécies de animais mamíferos. Porém, nesse caso, ainda não há a “consciência” de que um indivíduo masculino possa também ser um dos progenitores de uma prole.
ORIGENS DA CONSCIÊNCIA
Chegamos então à palavra “CONSCIÊNCIA”, que nos leva a especular os principais desdobramentos das sociedades primitivas rumo a concepção do indivíduo masculino como “potencial progenitor” de outros indivíduos (prole). Então, a pergunta que nos cabe aqui é: como pode acontecer, em uma sociedade, o “surgimento” da consciência de que todo nascituro também possui um progenitor masculino? Ou seja, como ocorre a descoberta da figura do “pai”? Ou ainda, como “surge” a consciência de que todo indivíduo, inclusive do sexo masculino, possui o potencial de gerar outras vidas?
Pode parecer inútil investigarmos as repostas às perguntas acima, mas quando lembramos de que a concepção plena da figura do pai depende exclusivamente da consciência de que o ato sexual leva ao nascituro, e também de que todo nascituro depende do vínculo íntimo entre um homem e uma mulher, lembramos também que há, inevitavelmente, uma relação direta e simbólica entre a “descoberta da figura do pai” com a “consolidação da (auto) consciência humana”.
Em outras palavras, a consciência da existência da figura do pai consolida também a consciência da forma como nós nos perpetuamos ao longo das eras, inclusive confrontando a ideia da morte e extinção da humanidade. Concebe-se assim que o indivíduo masculino também participa originalmente do ato de gerar descendentes, portanto, participação na perpetuação da vida!
De fato, desconheço, como também me considero inapto a fazer uma especulação convicta de como se sucedeu a origem desta “consciência” paterna. Portanto, lamento informar que as demais “indagações” não possuem respostas muito “cartesianas”, mas a simbologia é inegavelmente forte. Podemos até especular, por exemplo, aceitando uma das diversas interpretações do simbolismo do Jardim no Éden, de que Eva, “tentada” pela serpente, provou do “fruto proibido da árvore do conhecimento do bem e do mal” e ofereceu a Adão para que ele então desse cabo do consumo do fruto.
ORIGENS DO PATRIARCADO E O LIVRE-ARBÍTRIO
Em outras palavras, é possível que em uma das diversas interpretações da alegoria do Jardim no Éden, sugere-se que o progenitor feminino é quem primeiramente postula a hipótese da existência de um progenitor masculino no nascituro, sendo que este último, Adão (ou os homens) acata a ideia e passa então a assumir a responsabilidade de dirigir a sociedade rumo à civilização!
Sem dúvidas, se não existisse a concepção da figura do “pai” dificilmente as sociedades teriam consolidado leis mais sofisticadas, não haveria a transmissão (oral e escrita) de seus “mistérios” e valores, e sequer teríamos chegado também a concepção da ideia de PATRIMÔNIO e HERANÇA. De fato, os cuidados paternos para com a prole se dá de forma menos íntima do que a materna, mas potencialmente relevante, tendo em vista que o sexo masculino é claramente mais apto para o domínio e acúmulo de riquezas do que o feminino. Podemos especular que até o propósito dos indivíduos do sexo masculino se tornaram mais direcionados aos jovens (gerações vindouras) do que em si mesmos.
Podemos dizer então que o advento da consciência humana está diretamente relacionada com a concepção da figura do pai. Porém, o nosso passado primitivo permanece impregnado em nossos corpos e mentes. E é justamente nessa polaridade entre nosso passado inconsciente e matriarcal com o nosso presente consciente, moderno e patriarcal é que mora o nosso senso de julgamento, virtudes, deveres e direitos, conhecido como LIVRE-ARBÍTRIO.
Embora não haja respostas claras sobre os eventos intermediários entre a origem do homem e a concepção da figura do pai, é possível especular com muita clareza as principais consequências inevitáveis da transição do matriarcado para o patriarcado.
Uma consequência imediata do advento do patriarcado é o CONTROLE SOBRE A SEXUALIDADE, PRINCIPALMENTE A FEMININA! Oras, só podemos ter certeza a respeito da paternidade de uma prole se houver certeza de que a progenitora feminina se relacionou apenas com um indivíduo masculino! Sem essa certeza teremos inevitáveis instabilidades, abandono, humilhação e até violência no seio familiar.
Outra consequência é a tutela da segurança das mulheres por parte da sociedade, principalmente aos homens mais próximos ou incumbidos para tal função (esposo, pai, irmãos, tios, vizinhos, amigos, forças policiais etc) de forma a assegurar a integridade física e garantia da presença (e dever) do pai no seio familiar.
Dessa forma, entre várias outras sucessivas consequências dessa transição de tutela, formou-se assim as CULTURAS PATRIARCAIS e, consequentemente, o ADVENTO DAS CIVILIZAÇÕES!
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