Deus enquanto assunto da Filosofia

Por Leonardo Schwinden *

Quem nunca parou para se perguntar se Deus realmente existe? Embora a pergunta resida no coração da vida individual, a filosofia a aborda de um ângulo estritamente acadêmico: o problema epistêmico. Concentramos, assim, a análise na eterna questão: é possível saber, através de nossa razão, se Deus existe?

Historicamente, o pensamento ocidental evoluiu. Filósofos como Xenófanes rejeitaram o antropomorfismo em favor de uma divindade única. Paralelamente, o Teísmo se consolidou, definindo Deus como Ser pessoal, onipotente, onisciente e perfeitamente bom. O debate moderno se articula entre o Teísmo, o Ateísmo (cuja ascensão levou Nietzsche a declarar: “Deus está morto”) e o Agnosticismo, que nega a possibilidade de conhecimento humano sobre o tema.

Visto que provas físicas diretas são consideradas inúteis, a discussão se volta para a capacidade da lógica. O debate divide-se entre o Fideísmo (conhecimento apenas pela fé) e a Razão Complementar, que via a razão como “serva da teologia” capaz de obter algum conhecimento sobre o Divino. Essa segunda linha gerou os argumentos clássicos. O Argumento Cosmológico, exemplificado pelas Cinco Vias de Tomás de Aquino, sustenta que a existência do cosmo exige uma Primeira Causa. O Argumento Teleológico foca no propósito (desígnio) da natureza, que aponta para um “Divino Relojoeiro”. Por fim, o Argumento Ontológico, de Anselmo de Cantuária, argumenta que a mera ideia do ser mais perfeito possível implica sua existência. Estes argumentos, contudo, foram originalmente propostos como complemento racional para a fé já assumida. O Argumento da Aposta de Pascal, um artifício pragmático/psicológico, defende a crença por ser a escolha mais vantajosa.

O principal desafio racional é o Problema do Mal, sintetizado no Paradoxo de Epicuro: Se Deus é onipotente e bom, por que o mal existe? A resposta de Santo Agostinho defende que o mal não é uma substância, mas sim a ausência do bem ou a privação da perfeição. O mal moral, então, resulta do livre-arbítrio humano: a escolha de agir com falta de amor (Cáritas). Assim, a existência do mal reflete a liberdade humana, não a imperfeição divina.

A questão da existência de Deus suscitou diversas tentativas racionais, mas nenhuma conseguiu solucioná-la de forma definitiva. A despeito de todo o esforço da razão em demonstrar ou refutar, o problema, como diriam Pascal e Kierkegaard, parece depender, em última análise, de um salto de fé, uma decisão de acreditar.

* Leonardo Schwinden é doutor em Filosofia e professor.

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