Por Leonardo Schwinden
Antes de entrar para o mestrado, escolhi assistir algumas aulas do curso de filosofia para ter alguma ideia sobre o que poderia pesquisar. Era março e o ventilador de teto fazia barulho e se movia inutilmente. O professor chegou na sala, deu boa tarde aos alunos e brincou: definitivamente, o clima no Brasil não é nada favorável à filosofia. Com esse clima, filosofar é praticamente um ato heroico! É um clima para tomar um chope na Lagoa da Conceição! Todos caíram na risada. Satisfeito ele emendou. Na Europa, não. O que se há de fazer naquele clima frio senão filosofia e existencialista ainda por cima! Como eram divertidas e agradáveis as aulas do professor Hebeche. Pois bem, nesse pequeno escrito, gostaria de lembrar dois fatos que contrariam a afirmação de que a Europa tem um clima mais favorável para a filosofia: refiro-me ao fim que dois ilustres filósofos da época moderna tiveram por causa do frio! O primeiro deles é Francis Bacon e o segundo é Rene Descartes.
A paixão de Francis Bacon pelo empirismo, a filosofia que ele mesmo criou e defendia, acabou por levá-lo à morte. Em março de 1626, durante uma viagem pela Inglaterra, ele foi inspirado pela neve a testar a hipótese de que o frio intenso poderia preservar a carne tão bem quanto o sal. Sem hesitar, parou a carruagem, comprou uma galinha e a encheu de neve para o experimento. A exposição ao frio durante o teste causou-lhe uma bronquite ou pneumonia fatal, e sua morte se tornou o sacrifício final em nome de sua própria filosofia.
O destino de Descartes, por outro lado, foi igualmente trágico, mas por razões muito distintas. O grande filósofo do racionalismo acreditava no poder da mente sobre o corpo, mas era um homem de hábitos e bastante avesso ao frio. Acostumado a passar as manhãs na cama, onde sua mente funcionava melhor, ele aceitou relutantemente o convite da Rainha Cristina da Suécia para ser seu tutor. As aulas de filosofia, no entanto, deveriam começar às cinco da manhã no rigoroso inverno sueco. A exposição diária ao clima gélido e a quebra de sua rotina debilitaram sua saúde, e ele morreu de pneumonia em fevereiro de 1650.
O fim trágico de Bacon e também o de Descartes mostram que filosofar no inverno tem seus próprios desafios. É o que costumo dizer para os meus alunos quando chegam para as aulas de filosofia e são convidados a filosofar pouco tempo depois de terem saído da cama. Filosofar no inverno, na Europa ou em Florianópolis, principalmente no início da manhã como acontece, isso sim é ato heroico.
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